Olhos
Olhos
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Pontos: | 1.763 |
Classificação: | 1168 |
Tribo: |
OMS
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Bônus noturno: |
Atual :00:00-08:00
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Aldeias (1) |
Coordenadas |
Pontos |
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445|527 |
1.763 |
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Perfil
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Texto pessoal
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To na are pessoal
Olavo, percorrendo a estrada do bosque, ia falando e gesticulando.
— O mundo é pérfido, os homens são todos filhos de Satanás. Não quero mais ver a cara de nenhum deles; a estar com eles é preferível de uma vez ir morar no inferno.
Um velho, sentado ao pé de um abeto, ouviu as estranhas palavras do viandante.
— Meu amigo, por que te estás lamentando?
Olavo teve um sobressalto. Mas vendo quem fizera a pergunta, tranquilizou-se e revelou a causa do seu dissabor.
— Um meu amigo padeiro, quando os seus negócios prosperavam e ele podia alegrar-se com os fartos lucros, socorria, distribuindo gratuitamente pão fresco e nutritivas broas, aos muitos pobres da aldeia. De algum tempo para cá, seus negócios desandaram, e a coisa tem ido muito mal para ele. Não pode mais, por causa disso, permitir-se o luxo da esmola cotidiana.
E as próprias pessoas que ele havia beneficiado hoje o acusam de avareza, e espalham sobre a sua vida os boatos mais ofensivos.
Não há ninguém que se rebele ante as calúnias, ninguém que defenda o bom homem — muito ao contrário! Só eu tentei defendê-lo e mostrar qual era a verdade dos fatos. Por que o fiz? A aldeia inteirinha se ergueu contra mim, como se eu tivesse pronunciado uma blasfêmia, ou tivera cometido uma ação condenável!
Vês bem que os homens não compreendem nada, não conhecem a gratidão, não são generosos nem honestos. Toda a aldeia contra, uma coisa de fazer vergonha! Em tal sociedade eu não vivo, recuso-me a participar dela. Por isso é que estou fugindo do convívio humano.
O velho ouvira tudo em silêncio e pusera-se de pé. No rosto, um novelo escuro de rugas, os olhos pareciam faíscas de ouro:
— Os homens são filhos de Deus, não de Satanás. Pecam, mas podem emendar-se. É preciso ter piedade deles, indulgência pelas suas culpas, procurar colocá-los na boa estrada.
— Tu vives solitário — disse Olavo. — Não podes compreender o meu desgosto, o meu ressentimento. Não tens amigos a quem os homens tenham ultrajado.
As faíscas de luz dos olhos fulgurantes do homem pareciam iluminar todo o ambiente.
— Não digas uma coisa dessas. Tenho um grande amigo, um sublime amigo.
Num tempo que já vai bem distante, eu caminhava a seu lado. Via o seu coração, como se vê um líquido vermelho num vaso de vidro. Esse meu amigo oferecia os homens o pão da Verdade, um pão que traz conforto, um pão que alimenta a alma.
Para fazer a oferta imensa, veio de um mundo de alegria excelsa, e se demorou aqui, no lodo da terra. E caminhava descaço pelo lodo, por cima dos calhaus, dos espinhos, dos rochedos pontiagudos. Mas sorria aos homens e apontava a estrada boa da alegria eterna.
E sabes como os homens recompensaram o mágico doador? Mandando-o à morte como um assassino e em meio de ladrões.
Apesar disso, eu não posso odiar os homens. Ele, o amigo sublime, recomenda que não os odiemos. São débeis, escravos de numerosas paixões, infelizes.
— E quem é esse teu amigo? E por que estás solitário na selva, se não desprezas a humanidade?
— O meu amigo é Jesus Cristo. Eu não vivo solitário na selva. Ando pelo mundo. Vou para aqui e para ali. Conheço todos os lugares do mundo: o cimo dos montes e o frescor sombrio dos valados, os campos desertos e as cidades populosas, as neves setentrionais e os raios ardentes do sol meridional. Conheço todas as estradas e todos os homens.
E aceitei, por amor de Deus, um sacrifício terrível: o de não morrer nunca, o de permanecer no meio dos homens enquanto o mundo existir. Estou cansado, mas conseguirei repousar só depois do dia do Juízo Universal.
Olavo olhou com espanto aquele verdadeiro novelo de rugas, e aqueles olhos que, como os astros, pareciam destinados a brilhar eternamente.
— Quem és tu?
— Sou João, o Apóstolo.
Olavo não duvidou que o velho estivesse a falar a verdade e caiu de joelhos. Sentia a alma leve. Tinha podido retornar aos homens e amá-los.
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